Barraginha sendo feita no dia de campo, na Fazenda Mato Sujo

Fazenda Mato Sujo, no município de Três Marias, na região Central Mineira, foi cenário para o “Dia de Campo Barraginhas: uma Abordagem Integrada para o Plantio de Água, Conservação do Solo e Sustentabilidade Hídrica”, no último dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente. Realizado pela Embrapa Milho e SorgoEmater-MG e Prefeitura de Três Marias, o evento reuniu cerca de 150 produtores, técnicos e estudantes, que conheceram uma área que vem sendo preparada, de forma estratégica e sustentável, para a agricultura nos últimos três anos. Dos 1.380 hectares da fazenda, 180 recebem a cultura da soja desde a safra 2022/2023.

Fábio Mosconi, um dos proprietários da Fazenda, conta que quando a família chegou a Três Marias, vindo de Ipuã, no estado de São Paulo, a propriedade apresentava pastagens degradadas em quase sua totalidade, com baixa fertilidade no solo, alto nível de acidez e diversos anos sem manejo. “Na verdade, era uma terra desacreditada. Mas com o apoio do município, da Embrapa, da Emater e de parceiros que acreditam no progresso, no desenvolvimento da agricultura e em regiões que antes diziam que não se produzia nada, hoje estamos trabalhando naquela área degradada e temos cerca de 180 hectares produtivos para a próxima janela”, comemora.

Mosconi conta que a família sempre pensa em executar o melhor tipo de manejo, buscando novas técnicas de conservação de solo e retenção de água, “para que toda água que cair nessa terra seja absorvida por ela, trazendo umidade, micronutrientes e microrganismos que vão ajudar para que as culturas sejam prósperas, nos oferecendo rentabilidade com sustentabilidade”. “Estamos aqui há três anos e descobrimos que o Cerrado é produtivo”, resume o produtor.

Palestras apresentam resultados de pesquisa e técnicas sustentáveis

Análise e correção do solo, com aplicação correta dos nutrientes, escolha assertiva das cultivares de soja, captação da água das chuvas por meio das barraginhas e tecnificação de diversas etapas do sistema produtivo são alguns dos conceitos que vêm sendo aplicados na Fazenda Mato Sujo. “Nosso objetivo é mostrar a aptidão agropecuária de Três Marias. Trazer produtividade, receita e renda onde não se produzia praticamente nada, com responsabilidade e sustentabilidade”, reforçaram os agrônomos Heberth Pereira Passos, diretor comercial da Jecal Agro, e Cayo Serrou, da Farm Plan, empresas especializadas em consultoria agropecuária.

O potencial hídrico da região foi tema debatido pelo pesquisador Daniel Pereira Guimarães, da Embrapa Milho e Sorgo. “A região de Três Marias tem água à vontade, com grande potencial de crescimento, mas temos que saber o que estamos fazendo, com responsabilidade”, frisou. Segundo ele, é essencial saber como “colocar a água no solo” – sabendo aproveitá-la, com a recuperação de áreas degradadas e com a construção das barraginhas, por exemplo. O pesquisador apresentou ferramentas de monitoramento da chuva, para entender a dinâmica da água no solo e saber retê-la com inteligência diante dos desafios das mudanças climáticas.

Magno Gomes, extensionista do escritório da Emater-MG de Três Marias, enfatiza que o propósito é trazer inovações tecnológicas para os produtores do município. “Unir pesquisa e extensão é nosso objetivo nesse dia de campo, trazendo inovações para o desenvolvimento sustentável. Temos acompanhado aqui nessa propriedade (Fazenda Mato Sujo) a implantação de técnicas de correção de solo e água e plantas de cobertura, fundamentais nesse processo produtivo”, disse.

‘Segura a água onde ela cai. Não deixa ela correr não…’

Com esse ditado popular de origem indiana, o engenheiro-agrônomo Luciano Cordoval de Barros, também da Embrapa Milho e Sorgo, apresentou os resultados positivos dos 30 anos da tecnologia social das barraginhas, pequenas bacias escavadas no solo com a função de captar enxurradas, controlando erosões e proporcionando a infiltração da água das chuvas no terreno. Assim, preservam o solo e promovem a recarga dos lençóis freáticos, que abastecem nascentes, córregos e rios. “A tecnologia ‘doma’ a enxurrada antes dela se tornar erosiva”, reforçou Luciano, mostrando exemplos de sucesso e ganhos para comunidades que sofrem com a falta d’água em diversas regiões brasileiras.


Na Fazenda Mato Sujo, o público pôde acompanhar a realização de uma barraginha no próprio local, conferindo na prática como o miniaçude é feito. “Quase a totalidade do preparo da barraginha é feito no dia anterior ao dia de campo. Fazemos a finalização no dia do evento, mostrando o passo a passo para o público”, explica Cordoval. Na propriedade, foram construídas barraginhas e curvas de nível em cochinhos (foto à esquerda), outra tecnologia social da Embrapa, que consistem em curvas de nível tradicionais, mas com cochos sucessivos de seis metros de comprimento por 60 centímetros de profundidade, separados por maciços de três metros. “Esses maciços são rebaixados de 15 a 20 centímetros para transferir o excedente de água para os cochinhos seguintes, evitando a erosão”, completa Luciano.

A construção das barraginhas e das curvas de nível na Fazenda Mato Sujo é o resultado de uma visita dos irmãos proprietários da fazenda localizada em Três Marias – Fábio Mosconi e Diego Mosconi – ao engenheiro-agrônomo Luciano Cordoval de Barros, na Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas, na região Central de Minas Gerais. “Preocupados com a erosão na propriedade, eles me procuraram e começamos essa conversa na minha sala. A partir daí, partimos para a prática e construímos cerca de 15 barraginhas e curvas de nível na fazenda”, finaliza Cordoval.

Conheça o projeto

O dia de campo integra as ações de um projeto de cooperação técnica entre a Embrapa e a Prefeitura de Três Marias, que tem como objetivo a recuperação de áreas de pastagens degradadas e a sua conversão para áreas de produção de grãos, buscando o desenvolvimento regional sustentável. “Como resultados obtidos até 2024, a área recuperada e convertida para a produção de grãos no município aumentou de 930 hectares para 1.280 hectares; a produção de soja no município aumentou de 3.990 toneladas para 8.460 toneladas; a produtividade saltou de 4.200 kg por hectare para 4.500 kg por hectare e o valor da produção subiu de 9,9 milhões para 21,8 milhões, um incremento de R$ 11 milhões a mais na renda do município e 1.200 hectares recuperados”, resume o engenheiro-agrônomo da Embrapa Milho e Sorgo Sinval Lopes, coordenador do projeto.

No Dia Mundial do Meio Ambiente, foi lançada uma nova fase do projeto, chamada “Reconversão produtiva para a sustentabilidade da agropecuária regional”, com o objetivo de auxiliar os produtores agropecuários da região. Essa nova fase consiste na recuperação de pastagens em sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP), implantando um consórcio entre sorgo e braquiária para a produção de forragem e a formação de pasto de qualidade. O trabalho contribui para as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) contidos na Agenda 2030, proposta pela Organização das Nações Unidas. “As ações executadas estão atreladas aos objetivos de, até 2030, dobrar a produtividade agrícola e a renda dos pequenos produtores de alimentos, particularmente das mulheres, dos povos indígenas, dos agricultores familiares, dos pastores e pescadores, inclusive por meio de acesso seguro e igual à terra, e a outros recursos produtivos e insumos, conhecimento, serviços financeiros, mercados e oportunidades de agregação de valor e de emprego não agrícola”, disse Sinval Lopes.

 
 

Guilherme Viana (MTb 06566/MG)
Embrapa Milho e Sorgo

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