Um dia de campo realizado na última sexta-feira, dia 7 de julho, na Embrapa Milho e Sorgo, revelou método mais seguro para ampliar a produção de grãos em sistema de plantio direto. “O foco do Sistema Antecipe é a redução de riscos que ocorrem nas condições de segunda safra, em que temos incertezas no clima. É uma tecnologia disruptiva, em que o produtor consegue antecipar o plantio de determinada cultura sucessora à cultura da soja”, disse o pesquisador Décio Karam. “Com essa antecipação, o solo tem mais umidade, menor temperatura com a palha proveniente da colheita da oleaginosa e maior atividade microbiológica, além do melhor manejo de plantas daninhas na área”, completou.
Resultado de mais de 15 anos de pesquisas, a tecnologia foi lançada inicialmente para o cultivo antecipado do milho na cultura da soja. “Hoje já temos resultados promissores com diversas culturas implantadas após o plantio da oleaginosa, como milho grão, milho silagem, sorgo e braquiárias. Estamos em fase de estudos para avaliar a viabilidade de implementação do Antecipe para culturas como milheto, algodão e até gergelim”, destaca o pesquisador.
Outra grande vantagem do sistema, continua, é a possibilidade de o produtor conseguir fazer até uma terceira safra com a antecipação dos cultivos, fazendo um plantio de uma cultura de inverno, como o trigo, por exemplo. “Com o Antecipe, o produtor pode substituir a soja de ciclo precoce por uma cultivar de ciclo médio, o que favorece a produtividade”, completa Karam.
O pesquisador comenta que o sistema, atualmente, está implantado para ajustes e em fase de adaptação para as diferentes regiões produtoras do País. Um destaque, segundo ele, é o estado de Roraima, onde, em determinadas regiões, o produtor não consegue fazer uma segunda safra. “Antecipando o plantio do milho em até 20 dias, produtores poderão viabilizar uma segunda safra, ou seja, uma janela está sendo aberta pelo Antecipe”, comenta. “Em áreas experimentais em Roraima, com a implantação do Sistema Antecipe, conseguimos incrementos de até 21 sacas de milho por hectare”, antecipa.
Com os ganhos de produtividade na cultura sucessora à soja, com médios entre 1,5 e 2,3 sacas por hectare para cada dia de antecipação da semeadura do milho na cultura da soja (leia matéria aqui), o pesquisador explica que, em condições extremas, com déficit hídrico, “temos conseguido produtividades de até 100 sacas por hectare, superando em até 40 sacas por hectare a produtividade de algumas áreas”.
Ganhos de produtividade comprovados
Lançado em 2020, o Antecipe é um pacote que agrupa um sistema inédito de produção de grãos, uma semeadora-adubadora – desenvolvida pela Embrapa e aprimorada pela empresa Jumil – e um aplicativo para auxiliar o produtor a planejar a execução. O milho é semeado pelo equipamento nas entrelinhas de soja, a partir do estádio R5 da leguminosa, dependendo da cultivar e das condições climáticas de cada região. Na hora da colheita, o milho é cortado junto com a soja, ficando apenas um pequeno caule de cada planta do cereal. Só que, nesse momento, toda a lavoura de milho já está implantada, com raízes em pleno desenvolvimento e pronta para botar novas folhas e continuar crescendo. Esse plantio antecipado permite um ganho de até 20 dias e faz o cereal aproveitar condições climáticas mais favoráveis.
De acordo com Décio Karam, é preciso pensar de forma diferente no momento de adotar a tecnologia. “É uma tecnologia disruptiva. Se não abrirmos a mente, não conseguimos trabalhar com o Antecipe”, revela Décio. Apesar do impacto visual que o dano mecânico na planta de milho pode provocar no produtor, com o corte rente ao solo quando a colheitadeira de soja passa sobre a lavoura, o pesquisador busca na ciência a explicação para tranquilizar o agricultor. “O ponto de crescimento do milho fica abaixo da superfície do solo até o estádio V6, fase vegetativa com seis folhas desenvolvidas. Portanto, com o dano mecânico até esse estádio, o milho vai continuar seu crescimento”, detalha.
O pesquisador Emerson Borghi, da Embrapa Milho e Sorgo, em estação sobre o rendimento operacional da tecnologia, reiterou os benefícios do Antecipe. “A cultura que vem na sequência após o cultivo de verão é altamente beneficiada. A média de ganhos de produtividade de 1,5 a 2,3 sacas por hectare a cada dia de antecipação está fundamentada em mais de 14 anos agrícolas comprovados”.
Ainda segundo ele, a versatilidade do sistema encontra subsídios na necessidade de se fazer bem-feita a parte agronômica, ajustar o trator à semeadora-adubadora e fazer o melhor ajuste possível. “O Sistema Antecipe é um conjunto entre a semeadora e o trator, que deve ser ajustado à tecnologia. A escolha da cultivar de soja também é fundamental, que deve apresentar um porte mais ereto, facilitando o trânsito das máquinas na lavoura”, reforça Décio Karam.
Resultado de 15 anos de pesquisas, a tecnologia é composta por três pilares: um sistema inédito de produção de grãos, uma semeadora-adubadora exclusiva e um aplicativo que está em fase de testes para auxiliar o produtor a tomar as melhores decisões. Saiba mais em www.embrapa.br/sistema-antecipe .
Guilherme Viana (MTb 06566/MG)
Embrapa Milho e Sorgo
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