Foto: Sandra Brito

Dia de Campo na Fazenda Lagoa dos Currais, Codisgurgo-MG

A lavoura de soja é uma alternativa para a diversificação de culturas e para a recuperação de áreas de pastagens degradadas. Produtores da região Central de Minas Gerais estão conhecendo os benefícios do cultivo dessa cultura e aprendendo como inserir a soja em sistemas Integrados Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). 

 A equipe técnica da Embrapa Milho e Sorgo considera que a reconversão de áreas de pastagens degradadas em ambientes de patamar produtivo mais elevado é a via pela qual o Brasil deverá seguir nas próximas décadas. Isso deve ocorrer pela necessidade de conciliar aumento da produção agropecuária e uso sustentável de recursos, sem maior interferência nos ecossistemas naturais, de modo a cumprir metas de conformidade para mercados consumidores cada vez mais exigentes. Nesse cenário, as principais estratégias envolvem intensificação e diversificação do sistema produtivo na propriedade rural. 

Para abordar os principais pontos a se observar no cultivo de soja no Cerrado do Centro-Norte de Minas Gerais, foi realizado, em 3 de março, o dia de campo “Desafios para a sustentabilidade da soja na região Central de Minas”. Segundo o pesquisador da Embrapa Miguel Gontijo, um dos coordenadores do evento, o regime hídrico limitante característico dessa região acentua as vulnerabilidades dos sistemas de produção, “por isso, existe a necessidade de ajustes tecnológicos e adaptações locais, para maior sustentabilidade da agricultura de grãos nessa região”.

O evento aconteceu na Fazenda Lagoa dos Currais, no município de Cordisburgo-MG, onde a Embrapa realiza ações em parceria desde 2017, com o estabelecimento de uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). A partir da realidade de ambiente de produção comercial em fazenda (pesquisa on farm), a URT tem por objetivo validar tecnologias e avaliar a sustentabilidade de sistemas integrados de produção com base nas premissas da Agricultura de Baixo Carbono.

Em 2022, com o apoio da Acero Agronegócios e, posteriormente, com a parceria das empresas fornecedoras de insumos UPL e Nidera, foram iniciadas ações visando obter informações técnicas para o cultivo da soja em áreas de pastagens degradadas e sob restrição hídrica. “A união de esforços das empresas fornecedoras de insumos e consumidoras de grãos, instituições de pesquisa e universidades e a atuação da Emater e do Senar devem ser fomentadas para que favoreçam a geração de informações regionalizadas, a transferência de tecnologia para o cultivo da soja e para o desenvolvimento de sistemas integrados de produção ILP (Integração Lavoura-Pecuária) e ILPF para a região”, disse Gontijo.

Dia de campo

Gustavo Pitangui de Salvo, proprietário da Lagoa dos Currais, considera que atualmente, para se usufruir melhor da propriedade, deve haver a adoção dos sistemas integrados. “Cada vez mais a gente precisa incrementar a renda do produtor rural. Nessa fazenda, especificamente, a tradição era a pecuária. Em um primeiro momento plantamos o eucalipto, no sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP), e agora estamos introduzindo a soja, para validar esse processo”, disse.

Segundo ele, um portfólio maior de produtos dentro da fazenda permite enfrentar possíveis crises.  “Isso é o que realmente transforma a vida das pessoas e traz prosperidade não só para o dono da fazenda, mas para a região e para tudo que gravita em volta da fazenda, seja serviço ou mão de obra. É um movimento de simbiose que eu acredito que seja mais adequado para as propriedades”, disse Gustavo Salvo.

“A oportunidade de parceria e de demonstração dos resultados e das tecnologias é um grande caso de sucesso. Um grande case em que mostramos na prática as tecnologias sustentáveis que a Embrapa tem para promover uma agricultura com maior descarbonização e com o uso das boas práticas agrícolas”, disse a chefe-adjunta de Pesquisa & Desenvolvimento da Embrapa Milho e Sorgo, Maria Marta Pastina, que representou o chefe-geral Frederico Durães no evento.  Ela ressaltou que a Embrapa é uma empresa de ciência e de tecnologia que tem como missão desenvolver soluções sustentáveis para a agricultura, com foco na sustentabilidade econômica, social e ambiental.

“Precisamos da difusão de tecnologia e de estar aqui na ponta, próximos da iniciativa privada e dos produtores para ouvi-los. Aqui nós temos um exemplo disso. A região de Curvelo está trazendo mais desenvolvimento, com o plantio dos grãos, que agrega muito. A nossa agropecuária mineira tem essa diversidade que mostra o valor dela”, disse o secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Thales Almeida Pereira Fernandes. 

É isso que o Sistema Faemg/Senar está fazendo junto com as instituições de pesquisa, transformando a região em um celeiro não só para Minas Gerais, mas para o Brasil. Graças às tecnologias e ao empenho de quem está fazendo, acrescentou o presidente do Sistema Faemg Antônio Pitangui de Salvo.

Os representantes Clécio Menezes, da Acero, Matheus Rodrigues e Verônica Pereira, da UPL, e Rodrigo Andrade, da Nidera Sementes, também ressaltaram a importância dos trabalhos realizados em parceria e a troca de conhecimentos para apoiar o produtor rural desde o plantio até a colheita da lavoura.

O produtor rural Ronaldo Neto considera que manter a qualidade e a produtividade da lavoura requer muito capricho. “É preciso ter dedicação ao sistema, fazer o manejo e a correção do solo bem feitos. Sempre acompanho os eventos de dias de campo para aprender sobre as novas tecnologias e para poder transferir esse conhecimento para as áreas de produção”, disse. Ele tem duas propriedades em Minas Gerais, onde cultiva 300 hectares de soja em sistema sequeiro. As fazendas são localizadas em Inhaúma e em Fortuna de Minas. Toda produção é destinada à exportação, que é feita por uma trade, em Santa Luzia-MG.

Estações tecnológicas

Estação: Cultivo de soja na Unidade de Referência Tecnológica em ILPF – Fazenda Lagoa dos Currais

Miguel Gontijo ressaltou que as bases de sucesso da lavoura de soja na região, além da escolha de cultivares e de um bom manejo fitossanitário, são o uso de práticas de conservação e a correção do solo visando construção de perfil de fertilidade que favoreça o bom estabelecimento e o desenvolvimento das plantas de soja na área. Assim, como estratégia para aumentar o potencial produtivo da soja em uma área com pastagem degradada foi adotado o Sistema São Mateus. “Nesse sistema, a correção da fertilidade do solo e a recuperação da pastagem é feita no período de chuvas anterior ao da semeadura da soja, aproveitando as chuvas e a umidade do solo para que ocorra a reação dos corretivos, a estruturação do solo pelas raízes e a formação de palhada para o Sistema Plantio Direto”, explicou o pesquisador.

Na sequência, a engenheira agrônoma Taís Torres, da Acero, fez um relato das atividades executadas e apresentou os custos associados durante o ciclo da cultura, indicando a necessidade de uma produtividade média de 47 sacas/hectare para cobrir todos os custos relacionados ao cultivo nesse primeiro ano de cultivo.

Estação: Importância da escolha de cultivares de soja

Nessa estação, Frederico Botelho, engenheiro agrônomo da Embrapa, e os representantes da Nidera Matheus Garcia e Rodrigo Andrade falaram sobre a importância do correto posicionamento de cultivares para os sistemas de produção predominantes na região Central de Minas.  Na URT da Fazenda Lagoa dos Currais foram implantadas 15 cultivares com características distintas, com o objetivo de avaliar o desempenho produtivo nas condições locais. “No mercado temos uma diversidade muito grande de cultivares, por isso cada produtor precisa avaliar as características do seu sistema de produção, e selecionar as cultivares que mais se adequam.  Precisamos pensar no sistema de produção e não apenas na cultura da soja, objetivando ter um sistema de produção mais sustentável e com rentabilidade, viabilizando assim a perenidade da produção de grão na região central mineira”, disse Botelho.

Estação: Cultivo intercalar antecipado para diversificação de sistemas de produção de soja

 O pesquisador da Embrapa Emerson Borghi disse que, além de se preocupar com a fertilidade do solo, o produtor rural deve ser orientado para armazenar toda água disponível. A adoção da segunda safra de palha, proveniente de espécie forrageira, contribui para guardar água no solo, diminuir a perda de nutrientes e para reduzir a temperatura do local. “Palha é uma safra, é um investimento que tem retorno. Quem não produzir uma segunda safra de palha dificilmente conseguirá produzir soja de alto potencial produtivo nessa região”.

Ainda segundo o pesquisador, uma das formas de proporcionar uma boa safrinha de palha é a partir de sistemas de cultivo consorciados de espécies forrageiras na soja antes da colheita da oleaginosa. Além disso, nessa região, algumas oportunidades foram pesquisadas pela Embrapa Milho e Sorgo ao longo dos anos e resultaram em produtividades de soja acima da média estadual.

Borghi demonstrou resultados de pesquisa utilizando o sistema Antecipe – cultivo intercalar antecipado nas entrelinhas da soja – com espécies forrageiras e o ganho de produtividade na soja semeada na sequência, sobre a cobertura morta dessas espécies. Foi demonstrada a semeadora-adubadora específica para realizar esse sistema de cultivo e, por fim, o que está sendo feito pela pesquisa para adaptar o Antecipe para a região.

“Pensando nas condições climáticas e na atividade econômica principal da região, novas espécies e mix de plantas forrageiras estão sendo avaliadas para que sejam semeadas através do Antecipe antes da colheita da soja, permitindo maior acesso das plantas à água, garantindo maior estabelecimento após a colheita da soja e possibilitando formar um pasto para uso no período de primavera, além de uma boa cobertura de solo para os cultivos seguintes”, pondera o pesquisador.

Mais informações sobre o sistema Antecipe podem ser obtidas em www.embrapa.br/sistema-antecipe

O dia de campo também contou com a Estação: Soluções UPL para o manejo nutricional e fitossanitário da soja, em que o representante da UPL, Matheus Rodrigues, e os técnicos do distribuidor local da Acero mostraram soluções de manejo de plantas daninhas, insetos e doenças nas diversas fases da lavoura. “Ressaltamos a importância de associar proteção de cultivos (defensivos agrícolas) com as biossoluções para uma planta saudável e produtiva”, disse Rodrigues.

Serviço

O evento foi realizado pela Embrapa Milho e Sorgo, pela Fazenda Lagoa dos Currais e pela Acero Agronegócios, com patrocínio das empresas UPL e Nidera Sementes e apoio do Sistema Faemg/Senar/Inaes, do Sindicato dos Produtores Rurais de Curvelo, da Associação Mineira dos Criadores de Zebu e da Confraria Centro Mineira. Participaram mais de 230 pessoas entre produtores rurais, autoridades dos governos municipal e estadual, estudantes e representantes de empresas públicas e privadas.

Da Embrapa Milho e Sorgo, compareceram os chefes-adjuntos Maria Marta Pastina (Pesquisa e Desenvolvimento), Myriam Nobre (Transferência de Tecnologia) e Lucio Ney Bento (Administração), pesquisadores e analistas. As atividades do evento foram coordenadas pelo analista Frederico Botelho com o apoio do supervisor de Transferência de Tecnologia Fredson Chaves.

 
 

Sandra Brito (MTb 06230 MG)
Embrapa Milho e Sorgo

Contatos para a imprensa

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