Foto: Sandra Brito

A cultura da soja vem se tornando a cada safra uma grande oportunidade para os produtores da região Central de Minas, mesmo não sendo tradição no local. Para discutir esse assunto, foi realizado o segundo dia de campo “Desafios para sustentabilidade da soja na região Central de Minas”, dia 22 de março, na Fazenda Lagoa dos Currais, em Codisburgo-MG.

Desde 2015, a Embrapa e a Fazenda Lagoa dos Currais mantêm uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) com sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), onde desenvolvem ações de geração e validação de tecnologias para a região Central de Minas Gerais. Atualmente, as ações também são apoiadas pela Associação Rede ILPF e pela Fundação Agrisus.

“Nesta região, temos uma condição topográfica favorável, e muitas áreas de pastagens degradadas que precisam ter sua capacidade produtiva reestabelecida. E o cultivo de grãos, tendo a soja como a cultura principal, é uma grande oportunidade para a reconversão produtiva regional”, ressaltou o coordenador do evento, Frederico Botelho, engenheiro-agrônomo da Embrapa Milho e Sorgo.

“Mas devemos nos alertar para os fatores adversos presentes, principalmente as limitações climáticas. E só iremos garantir a longevidade e a sustentabilidade da produção de soja na região se atentarmos para o uso de práticas e tecnologias que agreguem segurança para o sistema de produção. Nesse contexto, devemos nos preocupar principalmente com o manejo e a conservação do solo, visando a construção de perfil e a melhoria das condições fisicas, químicas e biológicas”, pontuou Botelho.

A programação técnica, coordenada pelo pesquisador Miguel Gontijo, contemplou sete estações, em que foram discutidos os seguintes tópicos: “Sustentabilidade regional com os sistemas integrados”, por Miguel Gontijo, da Embrapa; “Manejo da fertilidade para  lidar com o estresse hídrico”, por Álvaro Resende, da Embrapa; “Uso de fertilizantes organominerais”, por Alisson Borges e Flávio Magalhães, da empresa Valoriza Agronegócios; “Cultivares de soja, por André Dias, da Nidera Sementes; “Manejo fitossanitário da soja”, por Clécio de Menezes, da Manejo Agronegócios; “Nutrição foliar de soja”, por Cláudio Moreira, da Euroforte Agrociências; e “Unidade demonstrativa de soja, pelo coordenador Frederico Botelho.

O pesquisador Miguel Gontijo mostrou tecnologias eficazes para a intensificação da agropecuária sustentável. “Buscamos conciliar tecnologias que viabilizem a produtividade, a rentabilidade e a adequação ambiental. O caminho para garantir a intensificação sustentável tem sido o sistema Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta”, disse Gontijo.

No sistema ILP (Integração Lavoura-Pecuária) implantado na URT Fazenda Lagoas dos Currais, anualmente, são rotacionados a soja, o sorgo consorciado com capim e a pastagem. Essa alternância promove melhores condições de desenvolvimento e produção das culturas, aumentando a resiliência em situações de estresses abióticos (déficit hídrico, altas temperaturas) e bióticos (pragas e doenças), além de promover a diversificação de renda na propriedade.

Os benefícios desse processo para o solo foram explicados pelo pesquisador Álvaro Resende, que abordou o manejo da fertilidade para convivência com o estresse hídrico. Segundo ele, a sustentabilidade pode ser alcançada com a intensificação do uso da área, utilizando os componentes de pastagem, o sorgo, que tolera o déficit hídrico, e o milheto, que cresce rápido.

“São opções que podem ser encaixadas no sistema, para evitar o uso de uma única cultura, como a soja, ou evitar o plantio com preparo convencional do solo. Esse tipo de plantio mexe muito com o solo, ocasionando a perda de uma camada mais rica   por erosão, além da perda da matéria orgânica”, explicou Resende.

Para proteger o solo, Resende sugere usar combinações de culturas graníferas e outras espécies que também funcionam como plantas de cobertura (milheto e outras gramíneas forrageiras como a própria braquiária). “Ter planta viva no solo a maior parte do tempo, ao longo do ano, é o ponto chave para ganhar a sustentabilidade. Por que isso é importante? Porque, desde o início do uso agrícola, é preciso preocupar-se com a conservação de matéria orgânica no solo. Quanto antes deixar de usar o sistema convencional de aração e gradagem, melhor será. Então, temos que partir para sistemas um pouco mais complexos. O desafio é maior, por isso, o assunto do dia de campo é os “desafios para a sustentabilidade em anos restritivos”, porque tem anos em que a condição climática é muito mais complicada”.

Na URT é adotado um modelo em que é feita a melhoria do solo no ano (safra) anterior à entrada da soja. “Os custos não são baixos, mas, se pensarmos na longevidade e nas condições mais apropriadas para a cultura da soja, o retorno é garantido. Na safra 2022/2023 produzimos em 10 hectares uma média de 69 sacas por hectare, em uma área de primeiro ano. Esse desempenho produtivo só foi possível porque tínhamos melhores condições químicas, físicas e biológicas no solo para que a soja produzisse”, disse Botelho.

 

URT Lagoa dos Currais

Na abertura do dia de campo, Gustavo de Salvo, o proprietário da fazenda, lembrou que desde o início dos trabalhos a proposta era reverter a baixa produtividade da área, que se encontrava degradada, visando alcançar maior sustentabilidade. “A perspectiva era adotar tecnologias, inclusive as mais inovadoras, disponíveis naquele momento. A parceria com a Embrapa está sendo extremamente importante porque estamos aprendendo os processos necessários para a adoção dessas tecnologias e, de fato, aferindo economicamente o que está sendo feito”, pontuou.

“Na nossa região, centro de Minas, temos alguns problemas de baixo índice pluviométrico, mas precisamos parar com essa desculpa. Nós temos que, definitivamente, mitigar o máximo possível esses riscos. Constatamos, durante esses anos de parceria, que é possível ter bons resultados, acomodando as espécies de uma maneira correta, realizando todos os processos, acreditando na tecnologia que está disponível, nos profissionais existentes e na transferência de tecnologia. Assim, o aumento da renda vem de uma maneira mais rápida, trazendo não só benefício para o produtor, dono da propriedade, mas para o que gravita em volta, o que para nós é muito importante. Os benefícios alcançam as famílias dos funcionários e o comércio local dos municípios que nos atendem. Então é uma transformação total”, afirmou Gustavo de Salvo.

Para Frederico Durães, chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo, a pesquisa realizada na fazenda permite mapear os desafios futuros. “Temos nesta propriedade uma referência. É um grande potencial de resultados para ser multiplicado. Além disso, a região de Curvelo polariza o que tecnicamente chamamos de região Central mineira. O Sistema Faemg tem dedicado atenção a à essa região. A Embrapa, por inteiro, tem dedicado esforços de mapear os quadros naturais e as perspectivas para o agronegócio nesses novos eixos”.

O presidente do Sistema Faemg/Senar, Antônio Pitangui de Salvo, evidenciou que existe uma janela de oportunidade gigante na região Central de Minas Gerais. “É uma região historicamente de pecuária, uma atividade estabilizada e os produtores rurais já sobrevivem bem dela. Essa janela que está se abrindo é para a agricultura. A agricultura precisa de pacote tecnológico correto. Nós temos a tecnologia pronta, adaptada às nossas regiões. Em um dia de campo como este, tenho certeza que muitos vão compreender que, fazendo bem feito, é possível aumentar a renda e continuar tendo uma vida satisfatória dentro campo, melhorando não só a saúde financeira do produtor, mas a de Minas e a do Brasil.

Na mesma perspectiva, a presidente da Associação Mineira de Criadores de Zebu, Juliana Penna, considerou que o dia de campo promove a atualização de conhecimentos, demonstrando como a pesquisa é bem-feita. “Isso tudo reflete na produção e ajuda muito o produtor rural”, disse.

 

Realização

O dia de campo foi realizado pela Embrapa e pela Fazenda Lagoa dos Currais.

O patrocínio foi  das empresas Euroforte AgrociênciasCresolManejo Soluções e AgronegóciosNidera Sementes e Valoriza Agronegócios, com apoio da Rede ILPF, da Fundação Agrisus, do Sistema Faemg/Senar/Inaes, do Sindicato dos Produtores Rurais de Curvelo, da Associação Mineira dos Criadores de Zebu, da Confraria Centro Mineira e da OCP Brasil.

O evento teve a coordenação técnica do pesquisador Miguel Gontijo. As atividades do dia de campo foram coordenadas pelo analista Frederico Botelho com o apoio do supervisor de Transferência de Tecnologia Fredson Chaves, da Embrapa Milho e Sorgo.

 
 

Sandra Brito (MTb 06230/MG)
Embrapa Milho e Sorgo

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